quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Crónica de uma bailarina dentro de uma caixa de música

Esboço de monografia sobre pessoas tristes. Prólogo [?] (do grego πρόλογος - prólogos, pelo latim prologos, o que se diz antes)

Entendo-os como símbolos, que me seguem, que me abrem caminho…
Faz parte do que sou, do que faço, do que sinto. Caixas cheias ou vazias como parte integrante. Afinal… partilho palavras em caixa, por que, no limite, colocaria tudo em caixas! E sim, compartimentos, gavetas, secções não são caixas! Caixas etiquetadas pela dimensão tempo. Caixas à luz da Matrioska… que quase podia ser um conjunto de caixas em forma de bonecas que se encaixam. Pena perdermos sempre a mais pequena: boneca.
Música, melodia. Do ABC do Amor, Woody Allen à 5ª sinfonia,Bethoveen. Memórias de K7s de Carmen, Bizet atiradas da janela do carro nos Picos da Europa. E caixas de música na imaginação de uma criança. Borboletas na barriga quando as encontro… E voltamos à borboleta, que não é mais que uma bailarina que voa (mais). E voa!
Quase ouso dizer que consigo guardar numa caixa de música âmago. E afinal, que metáfora esta da bailarina dentro de uma caixa de música? Quase sempre em redoma, também a bailarina dança quando se abre a caixa e alguém dá corda. À bailarina, ou à caixa? Permanece selada como tesouro. Porque a bailarina é frágil, precisa ser guardada, na caixa. A bailarina mostra-se em pequenos momentos ao mundo, quase sem decidir quando. E vive pouco, à luz de corda, quando alguém faz saltar a tampa. A bailarina dentro da caixa não escolheu e enaltece os seus talentos a cada minuto de esperança, de oportunidade. Guarda jóias alheias ou é mais uma jóia dentro da caixa?
Há, porém, bailarinas que escolheram sê-lo. Que escolhem mostrar-se, brilhar ao mundo mesmo sem que saltem tampas. Sem caixa, ou com caixa própria. O que trazem com elas essas bailarinas livres? Tão próximas de borboletas soltas, as bailarinas livres procuram sê-lo ainda mais. Saíram do casulo, que não é mais que uma caixa, e trazem às costas a cor e a luz de uma combinação de balanços. De pequenos segredos resultado do casulo, da introspecção do bicho-da-seda, em caixa. E escondem-se como camaleão, confundem-se com a natureza quando não se querem fazer sentir. Eu, eu escolheria a branca!
E é nessa ténue distância entre bailarinas soltas e outras presas, que mesmo que ambas residam e regressem a caixas, conseguimos percepcionar distância entre tristeza e incerteza.

Sem comentários:

Enviar um comentário