segunda-feira, 13 de setembro de 2010

doce deitar...

http://www.youtube.com/watch?v=qgUL3ut4gyQ&feature=related

"No mundo de Goethe, o matraquear dos teares ainda constituía factor de perturbação..." in Musil, O Homem sem Qualidades

sábado, 4 de setembro de 2010

Algumas histórias de encantar por módulos

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ERA uma vez um pintor que tinha um aquário com um peixe vermelho. Vivia o peixe tranquilamente acompanhado pela sua cor vermelha até que principiou a tornar‑se negro a partir de dentro, um nó preto atrás da cor encarnada. O nó desenvolvia‑se alastrando e tomando conta de todo o peixe. Por fora do aquário o pintor assistia surpreendido ao aparecimento do novo peixe.

O problema do artista era que, obrigado a interromper o quadro onde estava a chegar o vermelho do peixe, não sabia que fazer da cor preta que ele agora lhe ensinava. Os elementos do problema constituíam‑se na observação dos factos e punham‑se por esta ordem: peixe, vermelho, pintor – sendo o vermelho o nexo entre o peixe e o quadro através do pintor. O preto formava a insídia do real e abria um abismo na primitiva fidelidade do pintor.
Ao meditar sobre as razões da mudança exactamente quando assentava na sua fidelidade, o pintor supôs que o peixe, efectuando um número de mágica, mostrava que existia apenas uma lei abrangendo tanto o mundo das coisas como o da imaginação. Era a lei da metamorfose.
Compreendida esta espécie de fidelidade, o artista pintou um peixe amarelo.
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in Os Passos em Volta, Hérberto Hélder

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Crónica de uma bailarina dentro de uma caixa de música

Esboço de monografia sobre pessoas tristes. Prólogo [?] (do grego πρόλογος - prólogos, pelo latim prologos, o que se diz antes)

Entendo-os como símbolos, que me seguem, que me abrem caminho…
Faz parte do que sou, do que faço, do que sinto. Caixas cheias ou vazias como parte integrante. Afinal… partilho palavras em caixa, por que, no limite, colocaria tudo em caixas! E sim, compartimentos, gavetas, secções não são caixas! Caixas etiquetadas pela dimensão tempo. Caixas à luz da Matrioska… que quase podia ser um conjunto de caixas em forma de bonecas que se encaixam. Pena perdermos sempre a mais pequena: boneca.
Música, melodia. Do ABC do Amor, Woody Allen à 5ª sinfonia,Bethoveen. Memórias de K7s de Carmen, Bizet atiradas da janela do carro nos Picos da Europa. E caixas de música na imaginação de uma criança. Borboletas na barriga quando as encontro… E voltamos à borboleta, que não é mais que uma bailarina que voa (mais). E voa!
Quase ouso dizer que consigo guardar numa caixa de música âmago. E afinal, que metáfora esta da bailarina dentro de uma caixa de música? Quase sempre em redoma, também a bailarina dança quando se abre a caixa e alguém dá corda. À bailarina, ou à caixa? Permanece selada como tesouro. Porque a bailarina é frágil, precisa ser guardada, na caixa. A bailarina mostra-se em pequenos momentos ao mundo, quase sem decidir quando. E vive pouco, à luz de corda, quando alguém faz saltar a tampa. A bailarina dentro da caixa não escolheu e enaltece os seus talentos a cada minuto de esperança, de oportunidade. Guarda jóias alheias ou é mais uma jóia dentro da caixa?
Há, porém, bailarinas que escolheram sê-lo. Que escolhem mostrar-se, brilhar ao mundo mesmo sem que saltem tampas. Sem caixa, ou com caixa própria. O que trazem com elas essas bailarinas livres? Tão próximas de borboletas soltas, as bailarinas livres procuram sê-lo ainda mais. Saíram do casulo, que não é mais que uma caixa, e trazem às costas a cor e a luz de uma combinação de balanços. De pequenos segredos resultado do casulo, da introspecção do bicho-da-seda, em caixa. E escondem-se como camaleão, confundem-se com a natureza quando não se querem fazer sentir. Eu, eu escolheria a branca!
E é nessa ténue distância entre bailarinas soltas e outras presas, que mesmo que ambas residam e regressem a caixas, conseguimos percepcionar distância entre tristeza e incerteza.

Espaço

Há quem não precise de espaço. Há quem sinta falta dele. O espaço é muito para além de área. E ainda bem!
Hoje saí do espaço neutro, daquele mundo meu. No fundo, fazemo-lo no quotidiano. Não vivemos isolados, a cada passo neste caminho vamos abrindo espaço, alargando horizonte. Deixando que pequenas coisas nos transportem para outros mundos, outros espaços. Alargamos também o nosso para que essas pequenas coisas entrem, caibam, façam parte. E na cumplicidade que vamos construindo por puro empirismo, também temos necessidade de método, de teoria, algumas regras. Importantes moldes, que nos permitem isolar espaço, ganhar espaço, limitar terreno, plantar árvores de fruto e fazer colheitas. E, por vezes, abrimos todo o nosso espaço para que a zona de conforto alheia possa eventualmente encontrar um lugar neste espaço, nosso. Foi assim!
Num dia de encontros sobre livros e escrita, que incluiu bloggers que quase vivem esta arte de partilhar o que quer através deste canal, que chamam blog, explicaram-me uma forma engraçada de justificar esta busca algo narcísica de “ter” um. Um blog!
Há efectivamente momentos, tempos, formas, figuras que precisamos deixar registadas… É catarse! Partilhadas as vicissitudes da vida parecem mais facilitadas. Sentimos necessidade de dividir, de separar o todo para percepcionar cada parte. Precisamos construir diagramas para juntar os blocos.
Às vezes precisamos verbalizar tanto do que procuramos, do que encontramos, que assumimos a potência do que é sensorial para caminharmos mais firmes. Como na fotografia, criamos a imagem do momento registado. Queremos a imortalidade deixada em forma palpável… E a escrita, podendo ser ciência abstracta, pode ser forma física de essência e existência.
- Para quê um layout? Afinal o blog deve servir o objectivo que te propuseste. Se queres partilhar parte do que escreves, então apenas precisas de espaço. Ponto! (by Um Tipo Totalmente Desconhecido)
Gostei! Custa, mas vai ser isso mesmo.
Sou uma romântica… Portanto, mesmo concordando, gosto sempre de uma folha de papel em branco! A força das palavras somos nós que medimos, como braço de ferro na maioria das vezes. São as emoções mais fortes que nos exacerbam a criatividade. E diria, que esta guerra de titãs pela exaltação do ser em relatos escritos pode ser tendência…